Sé de Selêucia-Ctesifonte

Grande Eparquia de Selêucia-Ctesifonte
Archieparchia
Sé de Selêucia-Ctesifonte
Ruínas da antiga cidade e Sé Episcopal de Selêucia-Ctesifonte (Arco de Ctesifonte)
Localização
País Pérsia
Território Assuristão
Arquieparquia Metropolita Selêucia-Ctesifonte
Eparquias Sufragâneas Cascar
Hirta
Zabe (Anumania)
Bete Daraia
Dascarta d'Malca
Perisapora (Ambar)
Carme
Tirã
Xena d'Bete Ramã
Uquebara
Bete Darom (Radã)
Cácer e Narauã
Nifre, Nilo e anumania
Bete Uazique
Estatísticas
Informação
Denominação Igreja do Oriente
Rito Siríaco oriental
Criação da Eparquia século III
Elevação a Arquieparquia século V
Governo da Arquidiocese
Arquieparca Hnanishoʿ II (último, mudou a cátedra patriarcal para Bagdá)
Jurisdição Arquidiocese
Contatos

A Sé de Selêucia-Ctesifonte era uma antiga sé metropolitana da Igreja do Oriente, atestada desde o século III. Foi a sé dos patriarcas da Igreja Persa, até a transferência para Baguedade (cidade localizada cerca de 30 quilômetros ao norte) no século VIII. Nos textos siríacos, a cidade dupla era normalmente indicada com o nome de Selêucia-Ctesifonte ou como Mahoze ("capitais"), Mahoza Rabba ("a grande capital") ou "Medinata de Bete Aramaia" (“As cidades de Assuristão”). Após a conquista árabe, as cidades são muitas vezes referidas pelo nome árabe de Almadaim, "as duas cidades". A metrópole consistia em várias dioceses na região de Assuristão, entre Baçorá e Quircuque, que foram colocadas sob a supervisão direta do patriarca no Sínodo de Iabe-Alaa I em 420.[1][2][3]

História

Fundação

Sé sufragânea do Patriarcado de Antioquia, a diocese de Selêucia-Ctesifonte, na época capital do Império Sassânida, tinha igual dignidade com as demais dioceses localizadas na Mesopotâmia.[4] A tradição reconhece em Mar Mari, um discípulo de Tadeu de Edessa, um dos Setenta discípulos de Jesus, fundador da primeira comunidade cristã em Ctesifonte. Depois de fundar a diocese de Cascar, a primeira diocese da Mesopotâmia, fundou a Igreja em Coque, um subúrbio de Ctesifonte.[5][6]

Segundo dados históricos, no entanto, a fundação da diocese de Selêucia-Ctesifonte é relativamente tardia (século III), devido à hostilidade do governo sassânida a uma presença cristã manifesta na capital do império parta. As referências aos bispos de Selêucia-Ctesifonte no período parta são claramente anacrônicas, e muitos dos primeiros bispos do Império Sassânida também carecem de autenticidade histórica. A fundação ocorreu da seguinte forma: no ano de 280 cerca de dois bispos do Patriarcado de Antioquia, visitando a Mesopotâmia, consagraram Papa bar Agai como bispo de Selêucia-Ctesifonte.[7][2] Papa bar Agai foi o primeiro arcebispo historicamente certo da cidade. Em um Sínodo celebrado na capital, no início do século IV, Papa bar Agai conseguiu impor a supremacia da sé episcopal de Selêucia-Ctesifonte às outras dioceses do império.[4][8]

O Segundo Concílio Ecumênico do cristianismo, realizado em Constantinopla em 381, confirmou a autoridade do Patriarca de Antioquia sobre as dioceses localizadas nos territórios do Império Sassânida (cânon II).[8]

Elevação à sé metropolitana

Durante o século V, através de um longo e delicado processo, a diocese de Selêucia-Ctesifonte tornou-se a sé metropolitana da Província de Assuristão. Em 410, no Concílio de Selêucia-Ctesifonte, presidido por Mar Isaque, arcebispo de Selêucia-Ctesifonte, foi reconhecido como "Grande Metropolita e Chefe de todos os Bispos"; além disso, o concílio organizou pela primeira vez a Igreja do Oriente em províncias eclesiásticas. Naquela ocasião, as dioceses de Assuristão permaneceram independentes. Apesar disso, foi reconhecido um vínculo especial entre a diocese de Seleucia-Ctesifonte e a de Cascar.[7][9] Mar Isaque foi o primeiro a ser oficialmente denominado Católico. Nas décadas seguintes, os católicos adotaram o título adicional de patriarca, que acabou se tornando a designação mais conhecida.[4]

No sínodo convocado por Mar Iabe-Alaa I em 420, as sioceses de Assuristão foram submetidas à autoridade direta do "Grande Metropolita". Outros atos sinodais redigidos durante o século V falam da existência de uma "Província do Patriarca", também conhecida como "Grande Eparquia".[3] Em 424, a Igreja do Oriente, reunida em concílio, sancionou sua própria independência e autonomia doutrinária. A separação definitiva do Patriarcado de Antioquia ocorreu no Concílio de Selêucia-Ctesifonte em 486.[7][8]

Posteriormente, essa autoridade metropolitana dos bispos de Selêucia-Ctesifonte sobre a diocese de Assuristão não parece mais ter sido questionada. Segundo Elias de Damasco, que escreveu no final do século VIII, Selêucia-Ctesifonte teve, ao longo de sua história, treze dioceses sufragâneas: Cascar, Tirã, Dair Hasquel, Hirta, Ambar (Perisapora), Alcim (Xena d. Bete Ramã), Uquebara, Arradã, Nifre, Alcasra, Ba Daraia e Ba Cusaia (Bete Daraie), Abedaci (Naargur) e Albuazique (Conixabur ou Bete Uazique).[10]

O patriarca Henanixo I (773-80) transferiu a sé patriarcal para Baguedade, que se tornou a nova capital do Califado Abássida. No entanto, os patriarcas sempre mantiveram o título de Bispos de Selêucia-Ctesifonte.[7]

Ver também

Referências

  1. Wilmshurst, David (2011). The Martyred Church: A History of the Church of the East (em inglês). [S.l.]: East & West Publishing Limited 
  2. a b J. Labourt. Le christianisme dans l'empire perse. [S.l.: s.n.] 
  3. a b Quien (O.P.), Michel Le (1740). Oriens christianus: in quatuor patriarchatus digestus : quo exhibentur ecclesiae, patriarchae caeterique praesules totius orientis (em latim). [S.l.]: ex Typographia Regia 
  4. a b c Wigram, William Ainger (1910). An Introduction to the History of the Assyrian Church Or the Church of the Sassanid Persian Empire, 100-640 A.D. (em inglês). [S.l.]: Society for promoting Christian knowledge 
  5. Harrak, Amir (2005). The Acts of Mār Mārī the Apostle (em inglês). [S.l.]: BRILL 
  6. E.J. Brill's First Encyclopaedia of Islam 1913-1936 (em inglês). [S.l.]: BRILL. 1987 
  7. a b c d Vacant, Alfred; Mangenot, E. (Eugène); Amann, Emile (1899). Dictionnaire de théologie catholique : contenant l'exposé des doctrines de la théologie catholique, leurs preuves et leur histoire. Internet Archive. [S.l.]: Paris : Letouzey et Ané 
  8. a b c https://ia800704.us.archive.org/4/items/ChabotSynodiconOrientale/chabot%20synodicon%20orientale.pdf
  9. Yarshater, Ehsan; Fisher, W. B.; Gershevitch, Ilya (1983). The Cambridge History of Iran (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press 
  10. Wilmshurst, David (2000). The Ecclesiastical Organisation of the Church of the East, 1318-1913 (em inglês). [S.l.]: Peeters Publishers 
  • v
  • d
  • e
Patriarcados no Cristianismo
Jurisdições eclesiásticas tradicionais de primazes no Cristianismo, classificadas de acordo com o legado apostólico mais antigo e ramificadas onde há várias reivindicações denominacionais:
azul negrito = Igreja Católica Romana, azul claro = Igreja Ortodoxa, negrito/verde claro = Ortodoxia oriental, azul itálico = Nestorianismo
Cristianismo primitivo
(Antiguidade)
(30–325/476)
Pentarquia
(cinco
Sés apostólicas)
Igreja de Roma (Séc. I)
Igreja de Bizâncio
(451)
Igreja de Antioquia
(Séc. I)
Igreja de Alexandria
(Séc. I)
Igreja de Jerusalém (451)
Outros
Igreja de Cartago (Séc. II–1076)
Igreja de Selêucia-Ctesifonte
(280–1552)
Igreja da Armênia (294)
Idade Média
(476–1517)
Início da Era Moderna
(1517–1789)
Era Moderna tardia
(desde 1789)
  • Patriarcado da Romênia (desde 1925)
  • Patriarcado Ortodoxo da Etiópia (desde 1959)
  • Patriarcado de Kiev (1992–2018; desde 2019)
  • Patriarcado Ortodoxo da Eritreia (desde 1994)
Relacionado
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